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O que é a Bienal para eles
Bruno P., Fernanda e Bruno R. não hesitam em afirmar a relevância de suas participações na Bienal do Rio, por variados motivos. Para Pacífico, será “transformador”, já que será sua primeira participação em um evento deste porte. O autor irá lançar seu terceiro livro, intitulado Construção Proletária (Folheando).

No caso da autora e tradutora Fernanda Castro, que fará sessões de autógrafos das obras Mariposa Vermelha (Suma) e O fantasma de Cora (Gutenberg), ela definiu sua expectativa para o evento como “uma grande festa da firma”. Ela comenta que está ansiosa para rever seus amigos e tietar seus autores favoritos.
A Bienal do Rio 2023 tem se colocado deste o início desta campanha de divulgação como um evento que busca inovar em seus formatos e temas, e uma das frentes que o evento tem investido muito é a de promover debates sobre diversidade.
No entanto, uma das críticas que os entrevistados comentam em relação a grandes eventos em geral é o espaço ainda relativamente desigual ocupado por autores do Norte e do Nordeste, que afirmam ser alguns dos únicos escritores de seu círculo regional que já foram convidados a participar de grandes eventos.
No última Sabatina PublishNews, o trio de curadores da Bienal detalhou um pouco mais sobre como se deu o processo de curadoria e a elaboração dos temas das atrações e da escolha de convidados. A edição do aniversário de 40 anos trará novos formatos e uma extensa lista de convidados e combinações "inusitadas" em seus painéis.
Em 2022, a colunista da Folha de S. Paulo, Marilene Felinto, publicou um texto falando sobre a decisão de outro grande evento literário, a Bienal do Livro de São Paulo, de ter escolhido homenagear autores portugueses na edição. A decisão para a escolha foi a comemoração do bicentenário da Independência do Brasil. Na época, a escritora e tradutora afirmou que o evento "esquece as histórias negras para enaltecer o colonizador".
Escritor e professor de língua portuguesa, Bruno Pacífico detalhou um pouco sobre sua visão dos convidados comumente chamados para grandes eventos do mercado editorial: "Me vejo numa posição de fazer pontuações críticas a esses grandes eventos, que nem sempre convidam nomes atuais, pessoas negras e indígenas. Na literatura ainda falta; não me lembro de amigos que tenham lançado livros na Bienal nos últimos 10 anos. Não falo de Milton Hatoum, ele já é uma figura estabelecida no mercado”, comenta.
Os autores enxergam esse "novo olhar" no mercado editorial como resultado de mudanças políticas e econômicas recentes. Na visão da autora e tradutora Fernanda Casto, ”mudou muita coisa, aumentou muito o custo do livro, o valor do dólar para você comprar os direitos autorais de obras de fora. E isso faz com que o mercado olhe com bons olhos para autores nacionais, e estejam mais dispostas a procurar esses autores”. O preço do livro, inclusive, tem sido um dos grandes debates de 2023 no mercado editorial, por conta também de declarações do influenciador Felipe Neto em suas redes sociais.
A importância do digital em meio à disparidade
Na visão dos três autores, a internet têm um papel decisivo na difusão de autores nordestinos e nortistas. “Eu jamais teria alcançado editoras maiores se não fosse a minha experiência com a internet. Os prêmios me ajudaram, mas a internet é capaz de furar bolhas, sem contato, digamos assim”, comenta Bruno Ribeiro.

Outro ponto levantado pela autora de fantasia está na influência do grande orçamento necessário para divulgar presencialmente um autor nacional pelo país. "Uma agem aérea é caríssima. Apenas de eu estar representando esse Nordeste na Bienal do Rio, eu sei que isso é um privilégio, porque muito disso está saindo também do meu bolso. Então o perfil de autor que vem representando essas regiões também é outro”, comenta Fernanda. Esse é um dos pontos que, segundo ela, diferem muito do marketing de escritores estrangeiros.
Uma demanda por novas histórias
Os autores ressaltam que sempre houve bons escritores do Norte e do Nordeste publicando no mercado editorial brasileiro. Na visão deles, a novidade no atual contexto está no olhar das editoras voltado para novos autores, que não são tão conhecidos fora das "bolhas" literárias de seus respectivos estados. Mas, ao mesmo tempo, pontuam que têm observado uma nova demanda do próprio público leitor, por histórias que apresentem novas perspectivas e propostas.
Eles salientam o cuidado necessário para não exotizar o olhar sobre essas novas histórias e autores. Fernanda conta que sempre é questionada sobre o que coloca de Recife em seus universos fantasiosos: "Essa é uma pergunta que autores de outros estados não receberiam. Eu não preciso retratar a minha cidade 100% ali, e dizer que se a em Recife. Recife sou eu. A gente não consegue escrever uma história sem colocar as nossas vivências e isso a pelo lugar que moramos e pela cultura em que estamos inseridos”, afirma.

”Acho benéfico que estejam procurando novas vozes, mas que também estejam escutando o que essas vozes têm a dizer, e não as coloquem em caixinhas do que elas esperam a história que será contada”, comenta a autora de Mariposa Vermelha (Suma).
Bruno Ribeiro destaca justamente a importância da Bienal como esse espaço de contato direto e comunicação com os leitores: “Chegou em um desgaste, que o público está cansado de ouvir as mesmas histórias. Acho que as bienais são o lugar para isso, que é onde você tem o espaço com o público leitor”.
*Estagiária sob a supervisão de Guilherme Sobota